Sugestão de aula - Língua Portuguesa - Recursos da linguagem literária
Ao escrever, autores utilizam duas formas bem categóricas de linguagem: o valor denotativo ou conotativo das palavras. Valor denotativo é o valor de dicionário de uma palavra e, a exemplo, podemos citar uma frase assim: “A flor está murcha”.
Observando, verificaremos que a palavra flor foi usada no seu valor comum.
Quando os autores utilizam o valor conotativo, as palavras ganham um leque de significados (polissemia) e, assim, na frase “Morreu na flor da idade”. a palavra flor já adquiriu significação diferente.
Dessa maneira, temos, portanto, a linguagem figurada: desvio dos padrões propostos pela gramática, com o objetivo de dar maior expressividade, empregando-se as palavras em sentido figurado.
Existem três tipos de figuras de palavras:
Figuras de Palavras:
a) Comparação ou símile – quando se faz uma comparação bem clara: “Quando me chegar/chegue feito o vento”. (Júlio Régis Fuscaldi);
b) Metáfora – desvio da significação própria nascida de comparação mental ou características entre seres: “Meu verso é sangue...” (Manuel Bandeira);
c) Metonímia – consiste em usar uma palavra por outra com o qual se acha relacionada e pode acontecer:
01. Efeito pela causa: Os aviões semeavam a morte.(bombas);
02. O autor pela obra: Lia Carlos Drummond o tempo todo.
03. O continente pelo conteúdo: Tomou uma taça de vinho.
04. O instrumento pela pessoa que utiliza: Ele é um bom garfo.
05. O sinal pela coisa significada: O trono estava abalado.
06. O lugar pelos seus habitantes ou produto: A América reagiu.
07. O abstrato pelo concreto: A mocidade é entusiasta.
08. A parte pelo todo: Não tinha um telhado que o abrigasse.
09. O singular pelo plural: O homem é mortal.
10. A espécie ou classe pelo indivíduo: Andai com os filhos da luz.
11. O indivíduo pela espécie ou classe: Os mecenas das artes;
12. A qualidade pela espécie: Os mortais choram.
13. A matéria pelo objeto: Tanger o bronze.
d) Perífrase – designar os seres através de algum de seus atributos ou de fatos que os celebrizou: O poeta dos Escravos morre cedo. – O rei das selvas é magnífico.
e) Sinestesia – Transferência das percepções da esfera de um sentido para a de outro sentido: “Na voz do meu amor, sinto o perfume das flores primaveris que perdi”. (Edson Gonçalves Ferreira)
Figuras de Construção:
a)Elipse – omissão de um termo ou oração que possa ser subentendido (a) no contexto: “Nos dias para frente assustei na cidade toda”.(Lindolfo Fagundes);
b)Zeugma – ausência de um termo já redundante para reforçar a idéia: “Eles compram amor, elas cultivam”. (Edson Gonçalves Ferreira);
c)Pleonasmo – Emprego de palavras redundantes: Maria, eu não a vi. – Comeu com a boca mais boa do mundo;
d)Polissíndeto – uso intencional da conjunção coordenativa, geralmente aditiva: “E trejeita, e canta, e ri nervosamente”. (A. Tomás);
e)Assíndeto – uso de idéias continuadas com o uso de vírgulas (coordenadas assindéticas): Dança, canta, ri, saltita alegremente;
f)Hipérbato ou inversão – alterar a ordem natural dos termos da oração com intenção estilística: “A Vós correndo vou, Braços Sagrados...” (Gregório de Matos);
g)Anacoluto – quebra ou interrupção do fio da frase, ficando o termo desligado do resto do período, sem função sintática: “Pobre, quando come frango, um dos dois está doente”. (Domingos P. Cegala);
h)Silepse – concordância não com os termos expressos na oração, mas com a idéia a elas associada em nossa mente e pode acontecer de três maneiras:
1.de gênero – “Quando a gente é novo, gosta de fazer bonito” (Guimarães Rosa);
2.de número – “Corria gente por todos os lados e gritavam”. (Mário Barreto)
3.de pessoa – “Aliás, todos os sertanejos somos assim”. (Rachel de Queirós);
i)Onomatopéia – aproveitamento de palavras cuja pronúncia imita o som ou a voz natural dos seres: “Deu rédeas e lept, arrancou estrada a fora”. (Monteiro Lobato);
j)Aliteração – repetição de fonemas para dar musicalidade à frase ou ao verso: “Rara, rubra, risonha, régia rosa...” (Félix Pacheco).
Figura de Pensamento:
a)Antítese – consiste na aproximação de palavras ou expressões de sentido oposto: “Ultima flor de Lácio, inculta e bela, és, a um tempo, esplendor e sepultura”. (Olavo Bilac);
b)Apostrofe – interrupção que faz o orador/escritor para se dirigir a pessoas ou coisas presentes ou ausentes, reais ou fictícias: “ Meu Deus, me dá cinco anos...” (Adélia Prado); “Deus te leve a salvo, brioso e altivo barco, por entre as vagas revoltas”. (José de Alencar);
c)Eufemismo – suavização de uma idéia ruim: “Ela não era tão bela, mas um pouco bonita apenas”. (Edson Gonçalves Ferreira);
d)Gradação – seqüência de idéias em sentido ascendente ou descendente: “O primeiro milhão possuído excita, acirra, assanha a gula do milionário”. (Olavo Bilac);
e)Hipérbole – afirmação exagerada: “A chama do meu amor faz arder minhas vestes...” (Adélia Prado); “Sou mais que a Virgem Maria na pureza do afeto...” (Edson Gonçalves Ferreira);
f)Ironia – consiste em dizer o contrario do que pensamos, de maneira sarcástica: Fizeste um excelente serviço, José! ( = péssimo);
g)Personificação ou prosopopéia – fazer os seres inanimados ou irracionais agirem e sentirem como pessoas: “Os sinos chamam para o amor” (Mário Quintana);
h)Reticência – suspensão intencional que o escritor/orador faz, deixando o pensamento meio velado: “Quem me cativou foi uma, foi uma... não sei se digo”. (Machado de Assis)
i)Amplificação – ampliar as qualidades de um ser: “Amor é a coisa mais alegre/amor é a coisa mais triste/amor é a coisa que mais quero...” (Adélia Prado); “Que meu braço encontre o seu... Que minha boca encontre a sua... Que minhas mãos encontrem as suas...” (Edson Gonçalves Ferreira);
j)Retificação – retificar uma afirmação anterior: “Tirou, ou antes, foi-lhe tirado o lenço da mão”. (Machado de Assis).
Exercícios:
Identifique todas as figuras presentes nos fragmentos de texto abaixo, justificando-as:
Texto A:
Neologismo
Beijo pouco, falo menos ainda.
Mas invento palavras
Que traduzem a ternura mais funda
E mais cotidiana.
Inventei, por exemplo, o verbo teadorar.
Intransitivo:
Teadoro, Teodora.
(Bandeira, Manuel. In Antologia Poética).
Observação: neologismo: palavra ou expressão nova, ou antiga com sentido novo. Os escritores inventam, às vezes, palavras de acordo com a intenção estilística e, também, o povo cria novas palavras que, depois, os dicionaristas registram.
Via lírica
“Ora, dirá que as estrela falam comigo!...
Eu, mesmo sendo poeta, amor, nunca perdi o sono
E quando, à noite, apaixonado desperto
Abro a janela para no brilho delas
Enxergar você.”
(Ferreira, Edson Gonçalves. In “Uma ponte para o amor”).
Texto C:
O sem querer do bem querer:
Edson Gonçalves Ferreira
01) Tuas fases são musicais para meus toques amoroso,
02) Com elas vôo entre o inferno e o céu
03) E o não poder pedir tuas mãos...
04) Como é difícil não ler Castro Alves ao beijar teus lábios!
05) E, assim, o gosto da tua boca tem gosto de sangue,
06) A luta para ficares comigo e eu contigo
07) E o céu contra nós...
08) Eu queria te matar de paixão!
09) E foges, e foges, e foges para o perto longe de mim,
10) E escondes, e escondes a tua verdadeira ternura,
11) E a ti, animal, não desisto de ter.
12) Tu és noite, és dia e a desesperança total.
13) Toda nossa igualdade reflete a maior das violências
14) E te amo com um amor desamado de mim que cansa,
15) E nem sob a lua tonta repouso,
16) Te procuro pra te fazer majestade e me perco.
17) Pode um amor ser assim tão sublime e desafortunado, responde, meu bem-querer?
18) Quando a tua voz me chega quente pelo fio canal eletrônico, apaziguo.
19) Mas voa rápido demais o pássaro branco,
20) E a solidão da tua ausente presença dói mais ainda,
21) A gente, amada, ficamos boba
22) E adolesce demais.
( in “Chupando caquis”, Editora Mazza)
Correção do texto C
Presença das seguintes figuras literárias:
01)Sinestesia(visão/audição/tato), aliteração;
02)Elipse, antítese (inferno = céu), inversão;
03)Metonímia (parte pelo todo), Elipse, reticências;
04)Elipse, metonímia, (autor pela obra);
05)Pleonasmo, hipérbole (exagero = sangue), aliteração;
06)Elipse (tu e eu), aliteração;
07)Polissíndeto, reticências;
08)Hipérbole;
09)Repetição, polissíndeto, gradação;
10)Elipse, repetição, aliteração, gradação;
11)Polissíndeto, apóstrofe e metáfora, inversão;
12)Metáfora, antítese, aliteração;
13)Aliteração;
14)Antítese, pleonasmo;
15)Polissíndeto, personificação;
16)Repetição, aliteração antítese;
17)Aliteração, antítese, apostrofe, inversão;
18)Sinestesia (voz quente), metáfora, elipse;
19)Inversão, metáfora;
20)Antítese;
21)Silepse (singular/plural)
22)Elipse, polissíndeto.